Trás-os-Montes a 15 km à hora


Em 1991 comprei a minha primeira bicicleta. Há oito anos troquei de bicicleta, comecei a utilizá-la regularmente e também a fazer viagens. Chegou a altura de transformar a minha bicicleta numa e-bike.
Estive indeciso entre comprar uma bicicleta eléctrica nova ou transformar a minha. Acontece que gosto tanto da minha BH Cambridge (apesar dela ter oito anos e mais de 20.000 kms), que optei por transformá-la numa e-bike.
Para isso contactei o Eng. Francisco Amorim da ECOSPOT-CONVERSION (http://ecospot-conversion.blogspot.com) para a montagem do kit eléctrico e agora, estou plenamente convencido que esta foi a minha melhor opção.
Foi instalado na minha bicicleta o kit Challenge III, com uma bateria Panasonic 36V/9Ah tendo três níveis de intensidade (100%; 50% e 30%) e uma autonomia de mais de 40 kms na potência máxima.
Se eu vivesse na Holanda não precisava duma e-bike para nada. Quando vou a Amsterdam  por vezes utilizo bicicletas sem qualquer mudança e para dizer a verdade não sinto falta delas. Mas a cidade do Porto é bem diferente e eu resido na parte mais alta da cidade.
Ir da Baixa ou da Ribeira até casa era, muitas vezes, um verdadeiro pesadelo… Valia-me a possibilidade, no Porto, de poder transportar a bicicleta no METRO.
A grande vantagem que tem a bicicleta eléctrica é nas subidas onde o esforço despendido é muito menor e a velocidade maior. Na realidade é esta a principal razão do sucesso das bicicletas eléctricas. Continua-se a pedalar e a fazer exercício mas com um esforço muito menor.
Mas uma bicicleta eléctrica mantém todas as vantagens que estão associadas às bicicletas convencionais: não obriga a carta nem a seguro; pode ser transportada em comboios regionais ou inter-regionais: na cidade do Porto pode ser transportada no METRO (desde que não seja em horas de ponta) ou no Funicular dos Guindais; continua a ser um veículo ecológico mas em nada altera o prazer de andar de bicicleta nem todas as sensações que podemos usufruir através deste fantástico meio de transporte.
É óbvio que com uma bicicleta convencional o exercício físico é muito maior mas, segundo um estudo inglês, na maioria dos países europeus enquanto que 46% dos utilizadores de bicicletas convencionais andam de bicicleta uma ou duas vezes por semana os utilizadores de e-bikes andam de bicicleta pelo menos o dobro do tempo.

Quando se pensa ir dar um passeio de bicicleta durante uma semana em Portugal opta-se naturalmente pela costa porque esta é muito atractiva e os desníveis não costumam ser muito acentuados.
É muito raro optarmos por Trás-os-Montes, sobe-se muito. E é verdade, para lá chegarmos sobe-se muito quer se suba por um lado quer pelo outro mas depois de lá estarmos a coisa já se torna mais pacífica. Foi por esta razão que aproveitámos uma “boleia” do nosso amigo Tó, que tinha de ir a Montalegre.



Sábado, 11 de Agosto – do Barroso ao Alto Tâmega
Montalegre - Camping da Quinta do Rebentão (Chaves) – 47,4 km


Partimos de Montalegre junto à estátua de João Rodrigues Cabrilho, que foi um navegador e explorador do século XVI que ao serviço de Espanha explora a Califórnia e a ver-se o castelo, que domina a cidade.

 
 

Quem sai de Montalegre em direcção a Chaves pela Nacional 103, a primeira povoação que nos surge é Grilhós e foi lá que conhecemos a Sra. Ana Maria uma simpática senhora que tinha uma égua chamada Ruça e dizia ela que agora as vacas eram “senhoras” porque além de darem leite nāo faziam mais nada!

 
 
 
 

Em Grilhós passámos algum tempo a ouvir histórias antigas mas a breve trecho tivemos, com muita pena nossa, de abalar e prosseguir viagem.

 

Seguindo pela Nacional 103 atravessámos Sapiãos pela parte antiga, ou melhor, por onde passava a estrada antiga.

 

Ainda tivemos tempo de dar um saltinho ao Castro da Curalha, já nas imediações de Chaves. Do Castro da Curalha, a mais de 400 metros de altitude, num monte sobranceiro ao rio Tâmega, avista-se uma paisagem deslumbrante.

 
 

Trata-se de um povoado fortificado, com três linhas de muralhas, com boas condições de defensabilidade e um excelente domínio da paisagem, que apresenta uma ocupação romana baixo-imperial e medieval, reaproveitando, eventualmente, um castro pré-romano. O seu espólio encontra-se no Museu da Região Flaviense, em Chaves.

E chegámos ao camping na Quinta do Rebentão que fica perto de Chaves, na freguesia de São Pedro de Agostem e com desvio a partir da estrada que vai para Vila Real.


 

O Parque de Campismo Quinta do Rebentão é um parque muito tranquilo, bastante frequentado por estrangeiros como ponto de passagem e tem como vizinho o Tâmega.


Domingo, 12 de Agosto - da Terra Fria à Terra Quente
Quinta do Rebentão (Chaves) – Mirandela – 59,7 km – Total: 107,1 km


Do camping da Quinta do Rebentão até Chaves o terreno é inicialmente plano e depois há uma descida até à rotunda do McDonalds (é assim que a chamam), em Chaves. Foi a meio desta descida que parámos para tomar o pequeno almoço.

Depois da descida, vira-se à direita, na tal rotunda e sāo perto de 500 metros planos. Depois é sempre a subir, quase 12 km, passando por S. Lourenço e S.Julião de Montenegro. Quase no cimo, num miradouro, as vistas são deslumbrantes, vê-se Chaves lá em baixo e toda a zona envolvente. Com vistas com estas características fica-se mesmo com consciência que subimos muitos quilómetros.

 

A partir de Barracão são mais 2 km e depois é sempre a descer até Vilarandelo. A seguir ou é plano ou a descer até Valpaços.

 

Antes de Barracão, lá bem no cimo, já depois de São Lourenço, vinham dois ciclistas em bicicletas de corrida, pai e filho, equipados a rigor. Eram de Chaves, tinham ido a Valpaços, estavam a regressar e costumam fazer esta volta ao fim de semana desde que o tempo seja propício. Aquele filho, que pela aparência estava no princípio da adolescência, quando crescer vai ter várias hipóteses: pode vir a ser corredor de bicicletas de estrada; pode enveredar pelas BTTs mas pode, um dia que tiver idade para uma viagem de Inter-Rail enveredar antes por uma viagem de bicicleta e ir por aí fora… De certeza que, por este andar, vai ter uma grande pedalada.

A estrada contorna Vilarandelo mas nós penetrámos no seu interior até à Igreja Matriz de São Vicente. Esta igreja  é uma edificação que se pensa ter sido erguida no século XVII, ainda que sobre os vestígios de uma outra construção, de época anterior (muito possivelmente de origem medieval), tem planta rectangular e apresenta um portal de arco de volta perfeita encimado por um óculo tipo olho-de-boi. A rematar a fachada tem um campanário com duas ventanas, encimado por uma cruz de Malta. A rodear o edifício encontram-se uma série de cruzeiros em granito.

 


A partir de Valpaços, cerca de 2 km depois começa a via rápida até Mirandela, foi onde virámos à direita para Rio Torto, pela estrada 213.

 


Rio Torto é rio só de nome porque o leito estava completamente seco. A seguir a Rio Torto, seguem-se Quinta do Leirós e Eixes.

A partir daqui ora sobe, ora desce e, de subida em subida, a bateria vai ficando cada vez mais fraca. Às "portas de Mirandela", junto à ponte antiga, as baterias já estão sequinhas...

 
 

Depois de atravessarmos Mirandela ainda existe uma subida "jeitosa", feita a 10 km/hora e uma ciclovia inacabada (será falta de dinheiro ou imposiçōes da Troika?).

 

E chegámos ao camping de Mirandela. Este camping, chamado 3 Rios-Maravilha, desenvolve-se junto à confluência do Tuela e do Rabaçal, que formam o Tua.

 


Segunda 13 de Agosto -  um saltinho à Aldeia das Rosas
Camping de Mirandela – Azibo (Podence) – 42,9 km – Total: 150,0 km

 

Partimos cedo do camping de Mirandela e foi sempre a pedalar até Romeu, também conhecida pela Aldeia das Rosas que é obrigatória conhecer.
A história desta aldeia começa assim:


"Cheguei à povoação do Romeu às 4 horas da tarde do dia 18 de Maio de 1874. Procurei uma estalagem e encontrei a única que lá existia e que era da Sr.ª Maria Rita que, por sinal, nada tinha que nos dar de comer. Mandei então assar bacalhau, acompanhado, a primeira vez para mim, de pão negro de centeio."



Em “Clemente Menéres 40 Anos de Trás os Montes”, 1915

Clemente Menéres acabava de chegar do Porto e fundava então a Casa Menéres, donde surgiu o famoso azeite do Romeu. Clemente Menéres também ficou conhecido pela sua moderníssima Real Companhia Vinícola, em Matosinhos e o seu vinho corrente “de tostão”. Entretanto a Sr.ª Maria Rita morreu, a estalagem ficou abandonada e em ruínas e, mais tarde, a Casa Menéres comprou-a.

 
 
 

Em 1966, Manoel Menéres, filho de Clemente, restaurou a velha estalagem, trouxe o recheio de uma de suas quintas e recriou a Maria Rita com a cozinheira de sua casa e as receitas de família.

 

O famoso restaurante Maria Rita estava hoje fechado (é segunda-feira) assim como o Museu das Curiosidades. No museu estão expostos objectos curiosos utilizados no dia a dia dos finais do Séc. XIX e princípios do Séc. XX. Pode-se ver caixas de música encantadoras, as primeiras máquinas fotográficas, de projecção de cinema, de costura, de engomar, telefonias, bicicletas, carros de cavalos, automóveis ou até um primitivo carro dos bombeiros.

 
 


De Romeu, em vez de regressarmos à N15, seguimos em frente até Cortiços porque o Sr. António, lembrou-nos que havia uma boa maneira de encurtarmos o caminho. Disse-nos que pela estrada municipal atrás da igreja até ao cimo eram para aí 200m metros e depois do cimo o caminho era “bom”, ou a descer ou plano. Acontece que me esqueci de lhe perguntar se já alguma vez tinha feito este caminho de bicicleta… 

O Sr. António enganou-se redondamente na medição, os 200 metros eram 2 km. E além disso, esqueceu-se de nos dizer que às vezes a inclinação era de mais de 12%. Até com a bicicleta à mão andámos. Não havia bateria que me acudisse. Mas no cimo, apareceu-nos uma vista fantástica, com os horizontes bem distantes a perderem-se nos olivais e uma estrada asfaltada feita à medida das bicicletas.

 
 
 

Parámos em Catita para comprar água e o dono do café disse-nos que até Macedo havia a subida da aldeia e mais outra da aldeia a seguir, Carrapatos. E, desta vez, foi mais ou menos assim.

 


São 15 horas e estamos a comer uma sandes perto do centro de Macedo de Cavaleiros e, na esplanada onde comíamos, perguntei à empregada:
- a menina sabe onde é o Turismo?
- o que é isso? questionou ela
- então a menina não sabe? É o sítio onde nos informam sobre assuntos aqui da terra: os museus, as curiosidades, os locais a visitar, as festas populares, etc.
- eu só sei tirar cafés!...

 

Um senhor do Turismo de Macedo de Cavaleiros, também ele um cicloturista foi inexcedível nas explicações e informações prestadas e também nos desdobráveis que nos ofereceu.

 

Seguimos viagem e depois de passarmos por Podence parámos na Residencial Azibo e ainda deu tempo, depois de largarmos as tralhas, de darmos um saltinho à praia fluvial.

Já tínhamos estado em Podence no ano passado, no inverno, por altura do Carnaval, mas agora estava tudo muito diferente.

 

O Carnaval em Podence é uma festa em que:

"Os Caretos representam imagens diabólicas e misteriosas que todos os anos desde épocas que se perdem no tempo saem à rua nas festividades carnavalescas de Podence (Macedo de Cavaleiros). Interrompendo os longos silêncios de cada inverno, como que saindo secretos e imprevisíveis dos recantos de Podence, surgem silvando os Caretos e seus frenéticos chocalhos bem cruzados nas franjas coloridas de grossas mantas."



Retirado de http://caretosdepodence.no.sapo.pt/

Vale a pena visitar o Museu do Careto que está aberto todo o ano mas para quem ainda não foi ao Carnaval de Podence é uma festa que recomendo vivamente.
O parque do Azibo estava nessa altura entregue à natureza mas era fácil reconhecer as suas potencialidades que foram na altura muito bem explicadas por um guia que falou também sobre as mais valias ornitológicas e geológicas desta zona. Agora o Azibo estava recheado de gente e com muitas canoas a flutuar nas águas da barragem.

 
 


De referir ainda a Sala-Museu de Arqueologia, que inaugurada em Maio de 2005, se situa no núcleo central da Paisagem Protegida do Azibo.

Na estrada, antes do desvio para o Azibo, mesmo em frente à Residencial onde ficámos, tudo estava a ficar diferente e um grande reboliço provocado pela construção da nova estrada. À porta da residencial o parque dos automóveis tinha carros e tractores estacionados lado a lado.


Terça 14 de Agosto - às voltas pela Nacional 15
Azibo (Podence) – Meixedo (Bragança) – 67,1 km – Total: 217,1 km


 

Para quem circula pela "velha" Nacional 15 como nós, ou tractores ou motorizadas, a coisa está a ficar negra. Esta “velha” estrada está a ficar esquecida.
 

O piso está cada vez pior, cruza e descruza com a IP4 e em determinada altura fomos obrigados a circular por um caminho de terra cheio de gravilha. Tudo isto antes de Santa Comba de Rossas.

 
Às vezes até assusta o barulho das britadeiras.

 

Em Quintela de Lampaças o Sr. José disse-nos que a imagem na entrada da aldeia era a da Nossa Senhora das Dores e no fim da aldeia era o S.Pedro com as chaves do Céu. E acrescentou que quando se morre tira-se um bilhete só de ida, mas para quem for crente talvez haja mais outra viagem qualquer mas só para a alma...

Nesta altura do ano são aos milhares os automóveis com matrícula francesa: os nossos emigrantes. Muitas aldeias “cresceram” graças às vivendas que eles construíram. Obviamente que muitas são de "gosto duvidoso" mas sente-se em muitas outras que é sobretudo a procura do conforto e do bem estar para um futuro regresso à terra natal.


Existem aldeias que se desenvolvem ao longo da estrada com é o caso de Pinela. Lembro-me perfeitamente de, nos finais dos anos 80, ter vindo a Pinela conhecer a Pichorra, uma artesã de barro famosa pelas suas pequenas cantarinhas. Chamava-se Maria Cândida Afonso mas todos a conheciam pela Pichorra.

 

De Pinela para Parada de Infançōes são os castanheiros, muitos deles centenários, que dominam a paisagem. 

Em Parada, que amanhã é dia de festa, fomos direitos à igreja, junto da qual tem um berrão da Idade do Ferro.  Os berrões são estátuas proto-históricas de pedra e estima-se que foram esculpidas entre a metade do séc. IV a.C. e o séc. I ou II a.C. Acredita-se que os berrões eram utilizados para fins de carácter religioso: representavam animais sagrados, habitualmente javalis ou mesmo divindades da fertilidade, ligados aos bosques sagrados de carvalhos a quem se prestava culto.

Vira-se para a igreja pela rua da Escola e é nesta rua que fica a escola primária, que segundo nos disseram, tem nove alunos.

 
 
 

O berrão mais conhecido em Portugal é a Porca de Murça mas existem outros berrões em Trás-os-Montes: em Torre de Dona Chama, em Bragança junto ao castelo e este em Parada de Infançōes.

Depois de Parada, em direcção a Bragança, o caminho até parecia plano, com algumas subidas ligeiras, e eis senão quando começámos, a descer, a descer. A experiência diz-nos que depois de uma grande descida há sempre uma grande subida. E foi assim que aconteceu, descemos mais de 6 km até atravessarmos o rio Santa Comba e depois foram outros tantos, sempre a subir.

 
 

Tirando o Planalto Mirandês, por Trás-os-Montes às vezes sobe-se mas a seguir desce-se. Outras vezes, quando nos aproximamos dos rios, desce-se e a seguir sobe-se. É sempre assim. E somando tudo acabam por ser tantas as subidas como as descidas…

Quando se viaja de carro os rios não se sentem, só se veem. Quando se viaja de bicicleta sentem-se os rios, as subidas e as descidas e fica-se plenamente convencido que é mesmo assim, que a seguir a uma descida há uma subida e que a seguir a uma subida há uma descida. A única grande diferença que se sente é que a descida são alguns minutos e a subida uma eternidade.


 


 


Quarta-feira, 15 de Agosto – ida à Aldeia de Montezinho
Meixedo - Montesinho – Meixedo – 36,7 km – Total: 253,8 km


Saindo do Camping da Inatel (Meixedo) em direcção a Montesinho a primeira povoação que nos aparece é Rabal. Hoje 15 de Agosto é dia de festa em muitas localidades e em Rabal festeja-se em honra de S.Bartolomeu: feira de artesanato; cavalos e cavaleiros; almoço de javali e à noite espectáculo com a banda Konsequência.

 
 



Até França segue-se na boa e depois sobe-se ligeiramente até Portelo. Do desvio até ao cimo, em direcção à aldeia de Montesinho são perto de 5 km com grande inclinação que se faz com muito custo mas sem parar. Nesta subida fomos começando a inalar o cheiro dos pinheiros e da resina e constantemente a ser cumprimentados pelos condutores dos veículos que vinham em sentido contrário. Depois é só mais um quilómetro e sempre a descer até ao centro da aldeia.

 

 


Chegados a Montesinho o primeiro sítio para onde nos dirigimos foi ao café Montesinho onde as sandes de queijo de cabra preparadas pelo Sr. Isaías continuam a ser excelentes.

 
 

Montesinho é pobre em recursos agrícolas, mas rico em recursos agro-pecuários onde o cabrito é um dos seus produtos mais afamados.

 

 


Depois de percorrermos a pé as ruas empedradas e de ir visitar a igreja regressámos ao camping da Inatel em Meixedo pelo mesmo caminho.

 


Quinta-feira, 16 de Agosto – um salto à Feira Medieval
Meixedo – Bragança - Castro de Avelãs – Meixedo    34,2 km – Total: 288,0 km



Na "cidade velha" o largo em frente ao castelo é amplo e um excelente sítio para a realização de uma feira medieval.

 
 

Com a feira medieval, a "cidade velha" está interdita ao trânsito e até às 10.30 da manhã só mesmo para cargas e descargas. Na realidade a "cidade velha" não está interdita a todos os veículos, seguimos na boa até à porta do castelo.

 

Reparei que nesta feira existem mais figurantes a falar castelhano do que a falar português. Senti-me quase no estrangeiro…

Do castelo, que alberga um museu militar, desfruta-se largas vistas de Bragança.

 
 

Um dos ex-libris da cidade é o Domus Municipalis que fica ao lado da Igraje de Santa Maria. Trata-se de um monumento singular da arquitectura românica civil (único na Península) e a sua edificação data muito provavelmente do primeiro terço do século XV.

 

Não percorri na totalidade a extensão da Ciclovia do Fervença. Fizemos uma parte do percurso que liga o centro ao Instituto Politécnico e pelo que vi e senti foi um excelente investimento que fizeram em Bragança.

 

Demos um salto a Castro de Avelãs, a velha sede da etnia dos zoelae, onde existe uma igreja que fazia parte de um antigo mosteiro beneditino que já no século XII era uma abastada instituição, usufrutuária de múltiplas rendas. Com o decorrer do tempo, contudo, o mosteiro e o templo monástico foram votados ao abandono e praticamente desapareceram, excepção feita à magnífica cabeceira românica da igreja.



Passa por Castro de Avelãs o Caminho de Santiago. Os peregrinos vêm de Bragança e seguem para Vinhais e Moimenta para entrar em Espanha.

 
 

O riacho que passa em Castro de Avelãs já é o Fervença mas até Bragança ainda vai receber mais água de alguns ribeiros.

Estamos a jantar no Restaurante Javali que serve javali e não só. Estamos na esplanada ao ar livre numa rica noite com o céu estrelado. O javali é excelente, bem temperado, gostoso e tenro. O Sr. Fernando é sobrinho do dono do restaurante, dá formação em vários sítios de Trás-os-Montes e trabalha no Verão com o tio. No entanto, quer ir trabalhar para Lourdes e já tem lá um contacto para um hotel. A mulher, cá com um bom emprego, só vai se a coisa der...





Sexta-feira, 17 de Agosto – através do Montesinho profundo
Meixedo – Rio de Onor  32,3 km – Total: 320,3 km


Sai-se do camping da Inatel em direcção a Rabal e aí à direita para Baçal.

 

Antes de Baçal uma cobra com mais de um metro rabiava à minha frente. Travei para não lhe tocar e ela fugiu para o meio de um campo.



Era desta localidade o Abade Francisco Manuel Alves, mais conhecido pelo Abade de Baçal. Nascido nesta aldeia (9 de Abril de 1865) veio a falecer em 1947 e foi um importante arqueólogo e historiador. Dedicou a sua vida a recolher testemunhos arqueológicos, etnológicos e históricos respeitantes à região de Trás-os-Montes e, especialmente ao distrito de Bragança. A sua obra principal são as "Memórias Arqueológicas-Históricas do Distrito de Bragança", em onze volumes.

 


Curiosamente conhecemos a Dona Maria Adelaide que, pelo que nos contou foi a última criança a ser baptizada por este famoso padre, em 1947.

Depois de Baçal e em direcção a Aveleda a paisagem modifica-se completamente e torna-se muito mais seca.


 
 

Um letreiro curioso à entrada de Aveleda lembra-nos como ainda hoje prevalecem vestígios comunitários nestas aldeias da Serra de Montezinho e lembrava-nos que:

“Só é permitido retirar lenha dos baldios com autorização da Assembleia de Compartes”.

 

Esta assembleia é constituída por todos os compartes, que são os moradores da Freguesia e que segundo os usos e costumes, têm direito ao uso e fruição do baldio. Uma maneira de proteger a lenha desta freguesia que tanta falta deve fazer durante o inverno.

Estamos em Varge, junto ao rio Duas Igrejas, a almoçar no Careto. Só mesmo umas sandes de queijo porque vamos em viagem e ainda faltam não sei quantos quilómetros para Rio de Onor mas, segundo nos disseram, come-se muito bem neste restaurante.


Antes ainda enchi o cantil numa fonte que tinha no cimo um careto de pedra. Na altura do Natal são características em Varge as Festas dos Rapazes que são rituais de Inverno que envolvem também caretos.

Dois senhores à porta do restaurante disseram-nos que dali, de Varge, até Rio de Onor os primeiros quilómetros eram sempre a subir e os últimos sempre a descer.


A partir de Varge o cenário altera-se outra vez, agora têm lugar os pinheirais. Só os últimos 2 km é que são a descer, sempre a descer e a primeira coisa que nos aparece quando se chega a Rio de Onor é o camping.




Já estamos a beber uma “surbia” acompanhada de amendoins na Cervejaria Preto e estou a escrever numa das mesas de pedra, circulares, que estão debaixo da grande árvore.

  
 

O dono do Café Preto chama-se Bernardino José Preto e é irmão do Presidente da Junta, o Sr. António Preto. Ficou explicado o nome deste café onde eu já vim não sei quantas vezes.

Amanhã, dia 18, vai ser dia de festa em Rio de Onor com torneio de matrecos, cantares, gaitas de foles, muita música e uma sardinhada e fêveras a seguir além do pipo que vai estar aberto.


Pelas descrições que vamos ouvindo e pelo que estamos a ver, Rio de Onor é bem diferente dos tempos em que andou por aqui o antropólogo Jorge Dias.

 


Jorge Dias falava que nesta aldeia tudo o que tinha a ver com as fainas agrícolas era comunitário. Agora, os tempos são outros mas ainda resiste o moinho, a forja e um grande campo junto ao rio, que está todo dividido em talhões rectangulares, onde cada habitante pode plantar o que muito bem entender. Aquele terreno não é de ninguém, aquele terreno é de todos. Já o quiseram comprar mas a Assembleia reuniu e conseguiram que o negócio não se efectuasse.

 

O boi de cobertura, que também era comunitário, já não existe, só a corte, que é de todos. Até mesmo os pastores que levavam o rebanho comunitário deixaram aqui de existir. Há uns anos atrás vinha cá um ferreiro, tipo saltimbanco, que percorria as aldeias da região e trabalhava na forja durante o tempo que fosse necessário, que normalmente era um mês. Este ferreiro desapareceu mas há cá um senhor que pontualmente trabalha como ferreiro para consertar as alfaias agrícolas que ainda subsistem.

 

Todos os transmontanos, sentem que algo se perdeu pelos caminhos do progresso (…) antes havia muita miséria, as estradas eram de lama, os estômagos estavam vazios. Agora há grandes estradões e isso está tudo muito bem, mas há menos tocadores de gaitas de foles e as pessoas zangam-se mais porque já não são os Conselhos do Povo a fazer justiça, os filhos emigraram e os netos não querem aprender os velhos dialectos nem cavar a terra. Já não há festas como antigamente, dias a dançar. 
                                                                              in Descubra Portugal e Trás-os-Montes





Sábado 18 de Agosto – à procura dum sítio para dormir
Rio de Onor – Argozelo    53,3 km – Total: 373,6 km


Eram 5 e meia da manhã e acordei com um barulho estranho. Numa tenda qualquer alguém falava muito alto e dizia:
 - Oh booooi! Oh booooi!
E, eis senão quando, ouve-se uma vaca a responder na aldeia. A seguir respondem as cabras. Um diálogo um bocado surrealista que eu ouvi com curiosidade mas o que é certo é que não consegui tornar a adormecer.




De Rio de Onor até Guadramil foi sempre a subir, não muito mas sempre a subir.



Em Guadramil estivemos a ver o lagar comunitário, mostrou-nos o Sr. Albino, mas não foi fácil perceber o funcionamento daquela geringonça até porque não era bem um lagar, tal qual os que conhecemos no Minho.





Em Guadramil só vimos idosos e pelo que nos disseram cada vez menos pessoas com vontade de trabalhar na terra. A “coisa não compensa”, adiantou o Sr. Albino.



Sentimos também que a “coisa não compensa” em Deilão onde uma senhora, muito simpática, encheu os nossos cantis com água bem fresquinha, de um garrafão de água que estava no congelador. Esta senhora produz batata mas só para consumo próprio, para a casa e para os seus porcos. “Não vale a pena vender ao preço que nos dão por elas” – disse-nos a tal senhora.




Algumas destas aldeias da Serra de Montezinho estão a perder o seu encanto mas para subsistirem, não sei bem como, vão ter que se adaptar aos novos tempos… 






Já estamos em Rio Frio e são 5 horas da tarde e estamos a beber Coca Cola e a carregar as baterias que, como nós, também estão secas.

Quando se viaja numa e-bike é necessário gerir muito bem a bateria e delinear os percursos em função da autonomia e ter atenção aos declives. Uma e-bike pesa mais alguns quilos que uma bicicleta convencional equivalente. Digo equivalente porque as nossas bicicletas já são um pouco mais pesadas do que as de montanha, são roda 28 e mais os guarda-lamas. Com a tenda, os sacos de dormir e os alforges bem carregados devem ser perto de 50 kg (a bicicleta e o resto) fora o condutor. Aconteceu que hoje, desde Rio de Onor até Guadramil foi sempre a subir, mais de 8 km.

E as subidas continuaram até Deilão e depois de S. Julião de Palácios até Quintanilha, onde inicialmente tínhamos pensado dormir. Foi o grande erro do dia de hoje. De Quintanilha até aqui, Rio Frio, são mais 8 km a subir e desta vez sem qualquer auxiliar externo. Chegámos aqui extenuados e desidratados. Estamos a descansar enquanto as baterias carregam durante uma ou duas horas, para prosseguirmos viagem e enfrentarmos as subidas com alguma ligeireza.

É importante, nestas viagens por Portugal, trazer um pequeno computador ou um tablet com acesso à net ou mesmo um GPS nem que seja só para saber o que nos espera nos próximos quilómetros.

Em Rio Frio não há alojamento nem sabem onde pode haver nas proximidades, dizem que talvez em Argozelo. Num cartaz, em Quintanilha, indicava turismo rural em Paçô, mas afinal não existia. Telefonámos para o Turismo de Bragança mas não tinham conhecimento de nenhum sítio para pernoitarmos antes de Vimioso. Àquela hora Vimioso era muito distante para nós, tínhamos de arranjar outra solução.



Estamos em Argozelo a perguntar por alojamento mas afinal não há. Talvez mais adiante em Carção ou depois à direita em Santilhão. Mas afinal, depois de várias tentativas via telefone, não havia alojamento em lado nenhum.

A senhora que era proprietária da bomba de gasolina e do restaurante, que naquela ocasião até ia ficar aberto a noite toda, sugeriu-nos a possibilidade de acamparmos num terreno do outro lado da rua, terreno este pertencente à casa da sua irmã. Nem pensámos duas vezes…




Com tenda montada vamos jantar sem pressa. Uns litros de água a acrescentar aos outros que já tínhamos bebido enquanto os cepos correm no ecrã da televisão e as baterias carregam no escritório do restaurante.

O Restaurante S. Bartolomeu tem aqueles items que deve ter um restaurante: a comida é óptima; o preço muito simpático; as vistas fantásticas e a menina que nos serviu muito atenciosa. Além de tudo isto não nos podemos esquecer da proprietária do restaurante, senhora muito atenciosa e muito prestável, que nos arranjou um sítio para montarmos a tenda e ainda nos deixou carregar as baterias. Aliás, já esperávamos que assim acontecesse pois em Trás-os-Montes estamos acostumados a ser muito bem recebidos.

Esta noite foi muito movimentada, como aliás a “patroa” já nos tinha avisado. Quando acabámos de jantar a esplanada estava sossegada, somente o barulho dos bilhares de matrecos. Acordei às 3 e meia da manhã com o barulho dos matrecos e muita gente a falar muito alto, alguns, pela maneira como falavam, já deviam estar com os copos. Ouviam-se também muitas vozes femininas, algumas com sotaque brasileiro. Tudo acalmou, só depois do Sol nascer, às 7 e meia da manhã, quando nos preparávamos para levantar e seguir viagem.

Com ou sem apoio eléctrico, Portugal é um país fantástico para ser descoberto de bicicleta. De bicicleta há sempre novas coisas a descobrir. Passa-se de automóvel pelos locais ou pelas aldeias num relance e não vemos nada, não sentimos nada e ninguém dá pela nossa passagem. Vamos aos mesmos sítios de bicicleta, cumprimentam-nos, recebem-nos e fazem-nos perguntas. São atenciosos e prestáveis e nós em viagem vemos tudo de uma maneira diferente até porque de bicicleta os nossos sentidos estão todos a funcionar no seu máximo esplendor.

De carro não sentimos os cheiros e muito menos os cânticos das aves.

De bicicleta até reparamos nas cenouras que estão a crescer…


Domingo 19 de Agosto – num sobe e desce até à terra de Trindade Coelho
Argozelo – Mogadouro    57 km – Total: 430,6 km


Depois de Argozelo, Carção e depois 4 km sempre a descer para atravessar o rio Mação. Depois da ponte são 5 km até Vimioso, sempre a subir e uma subida daquelas “jeitosas”.







Em Vimioso no café Juventude mudámos de planos e em vez de irmos para Miranda do Douro seguimos directamente para Mogadouro.

Passámos pelo Campo de Víboras e bebemos águas em Algoso, que tem castelo donde, segundo nos disseram, se contemplam magníficas vistas.

O Castelo de Algoso é um castelo da Ordem de Malta, sobranceiro ao rio Angueira e fundado por Mendo Rufino no reinado de D. Sancho I.

Dormindo somente 3 horas no tal terreno em frente à bomba de gasolina e as baterias só com duas horas a carregar já prevíamos que o dia de hoje ia ser complicado.

Conhecíamos bem a estrada que ia para Miranda do Douro e a estrada que continua daí até Mogadouro. Não imaginávamos que até Vimioso tínhamos de descer até ao rio Angueira e depois subir com um desnível tão acentuado. Mais alguns quilómetros e começámos a ficar secos e as baterias também.

Das coisas boas que acontecem quando viajamos de bicicleta é que são inúmeras as pessoas que nos cumprimentam. Muitas vezes são pessoas dentro de automóveis que passam por nós, dão duas apitadelas e acenam-nos. Às vezes são bicicletas que passam por nós ou que se cruzam connosco. Outras vezes são pessoas, simplesmente pessoas que nos acenam e nos desejam um bom dia. E se for numa subida, dizem: força, força, força...



Parámos num café/restaurante em Algoso e ficámos lá hora e meia a beber água e a carregar as baterias.

Continuamos viagem até que as baterias começaram novamente a ficar sem energia e as bicicletas a ficarem cada vez mais pesadas. Valeu-nos a Dona Helena na aldeia de Peso.
A Dona Helena, ex-educadora de infância, já aposentada, abriu-nos as portas e deixou-nos carregar as baterias. Enquanto as baterias carregavam, a Dona Helena serviu-nos melancia e ameixas caranguejeiras.

 Não queríamos almoçar, embora ela nos tivesse convidado, era só mesmo beber água fresca. E numa conversa animada a Dona Helena contou-nos coisas que não sabíamos sobre os casulos (que até estavam a secar).



Falou-nos também do marido que naquele ano era o “Juiz”, que acompanhado dos “Mordomos”, estava incumbido de organizar a festa da aldeia. Da próxima vez que aqui passarmos não nos vamos esquecer de visitar a Dona Helena e de lhe tornar a agradecer.



Finalmente chegamos ao Mogadouro e optamos por dormir na Residencial Lareira (por 30 euros). Esta residencial é muito central e depois de ir ao castelo, à zona histórica e jantar, ainda vai dar tempo para ir dar um saltinho à festa da Senhora do Caminho.






Adormecemos bem cedo, ao som dos gaiteiros e, finalmente, conseguimos por o sono em dia…


Segunda, 20 de Agosto – sempre a descer até ao Rio Douro
Mogadouro – Pinhão    71,7 km – Total: 502,3 km



A viajar aprende-se muito e de bicicleta ainda mais. E como diz Maurice Leblanc: "Quando andamos de bicicleta, respiramos, admiramos e escutamos a própria natureza, porque o movimento produzido contrai ao máximo os nossos nervos e dota-nos de uma sensibilidade que até então não conhecíamos."

Viajamos de bicicleta pelo simples prazer de viajar de bicicleta, não é para fazer exercício físico ou para emagrecer. Optámos pelas e-bike (bicicletas com pedal assistido) para viajar porque com elas mantêm-se as características das bicicletas convencionais quanto a sensações e ao prazer de pedalar mas, nas subidas, o esforço é consideravelmente menor.

Algumas das nossas etapas, talvez por ignorância, foram mal delineadas. Com as tralhas todas e as baterias sem energia, as bicicletas tornavam-se num peso imenso que tivemos de puxar. Por vezes tivemos que as empurrar a pé…

Antes da partida de Mogadouro ainda deu tempo para tirar uma fotografia junto à estátua de Trindade Coelho (1861-1908), que foi escritor, magistrado, político e natural de Mogadouro. O seu estilo natural, a simplicidade e candura de alguns dos seus personagens, fizeram de Trindade Coelho um dos mestres do conto rústico português.





Quando, em 1988, andei nesta zona a fazer um levantamento fotográfico de estelas romanas para o Instituto Arqueológico Alemão, diziam que o Artur, em Carviçais, era dos melhores sítios onde se comia em Trás-os-Montes. Vai ser lá que vamos almoçar.




A opção de almoçarmos no Artur foi uma opção excelente e por vários motivos: a posta mirandesa era tenrinha e estava deliciosa, como aliás já esperávamos; o vinho da casa foi fundamental para carregar as baterias do nosso corpo e as baterias das bicicletas estiveram a carregar enquanto nós almoçávamos.

Carregar as baterias aqui foi somente uma medida de precaução porque já não ia haver grandes subidas e a partir de Torre de Moncorvo ia ser sempre a descer até ao Pocinho.




Chegados a Torre de Moncorvo ainda deu tempo de ir ao centro da cidade, ao “Museu do Ferro e das Terras de Moncorvo” dar um abraço ao amigo Nelson Rebanda.




A partir de Torre de Moncorvo até ao Pinhão pela estrada antiga é quase sempre a descer. Por vezes após as curvas sentíamos baforadas de ar bem quente.



Chegámos à Estação do Pocinho ainda a tempo de apanhar no Pinhão o comboio regional das 17.37 que nos leva a Campanhã. A partir do Pinhão bem sentados junto à janela a paisagem está a ser uma constante delícia para os olhos. As belas encostas que apertam o Douro, as vinhas e as quintas do vinho do Porto.






E, de estação em estação, chegámos a Campanhã.

Depois de 10 dias e mais de 500 km a pedalar por Trás-os-Montes sinto que o meu corpo ficou mais forte e o meu espírito também…






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